Religião não salva ninguém, Jesus Cristo sim: Uma reflexão teológica e filosófica

 

(*) Teobaldo Pedro

A fé cristã, em sua essência, repousa na convicção de que Jesus Cristo é o único salvador espiritual da humanidade, sendo Ele a chave para a reconciliação entre o ser humano e Deus. Esta crença se articula a partir de uma compreensão do pecado, entendido não apenas como falhas individuais ou ações errôneas, mas como a incapacidade do ser humano de atingir o padrão de perfeição divina. O pecado, portanto, é visto como uma falha no alvo do propósito de Deus. Contudo, a perspectiva cristã sobre o pecado vai além de uma simples dicotomia moral de bem e mal, inserindo-se em um contexto profundo e relacional entre o ser humano e Deus.

Na visão cristã, a vida com Deus proposta por Jesus Cristo transcende a observância de regras ou rituais religiosos. A vida cristã é, antes de tudo, uma vida de relacionamento. Este princípio é amplamente demonstrado nos três anos de ministério de Jesus, nos quais suas palavras e ações evidenciam a necessidade de uma comunhão pessoal com Deus. Ao contrário de uma prática religiosa pautada na mera observância de dogmas, Jesus ensina que o propósito maior da vida humana é viver em íntima comunhão com Deus, o que implica uma transformação tanto pessoal quanto relacional.

Este entendimento possui um impacto significativo na sociedade, pois ao se entender a religião como um simples ritual, não há uma exigência de transformação interna. Por outro lado, ao compreender a relação com Deus como algo profundo e que toca a essência do ser humano, ocorre uma mudança paradigmática. Tal compreensão não afeta apenas a relação com Deus, mas também impacta as atitudes sociais, as relações familiares, a autoconsciência e a conduta ética e moral do indivíduo.

Filosoficamente, Immanuel Kant, em suas reflexões sobre a relação do ser humano com o divino, abordou a moralidade e a razão como componentes essenciais para se compreender a Deus. Para Kant, embora a razão humana possa intuir princípios morais universais, a verdadeira relação com Deus exige algo além da razão pura e da moralidade. Ela implica uma vivência ética enraizada na fé, algo que transcende as capacidades da razão humana.

Por outro lado, Søren Kierkegaard, filósofo dinamarquês, destacou a necessidade de um "salto de fé", uma decisão pessoal e apaixonada de confiar em Deus, mesmo diante da incerteza e da angústia existencial. Para Kierkegaard, a fé não é uma adesão racional a proposições, mas um movimento de confiança irrestrita em Deus, independentemente das evidências ou das respostas fáceis. Esse conceito ressoa com a visão cristã de que a verdadeira fé é uma experiência relacional com o Criador.

Spinoza, filósofo panteísta, tinha uma concepção de Deus que difere substancialmente da visão cristã. Para ele, Deus não era uma entidade pessoal e transcendente, mas a própria substância que permeia o universo. Em sua filosofia, a moralidade decorre da compreensão da natureza divina, mas não envolve a transformação do ser humano por meio de um relacionamento pessoal com Deus, como enfatiza o cristianismo.

Paul Tillich, teólogo do século XX, propôs que a fé é a "experiência da presença de Deus", onde a vida humana encontra seu verdadeiro significado e transcendência. Tillich argumentou que a experiência de Deus transcende as divisões entre religião e filosofia, e, ao contrário de muitos pensadores, ele sustentava que a relação com Deus não era uma abstração filosófica, mas uma vivência profundamente experienciada na história humana.

O apóstolo Paulo, em suas epístolas, assevera que a salvação não é alcançada pela observância da lei, mas pela fé em Jesus Cristo, o mediador entre Deus e o homem. Em Romanos 5:1, ele afirma: "Justificados, pois, pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo". Para Paulo, a verdadeira salvação é encontrada exclusivamente no relacionamento com Cristo, e não em rituais ou práticas religiosas isoladas.

Finalmente, a visão cristã de Jesus Cristo resume de maneira singular a relação do ser humano com Deus. A mensagem de Jesus não se resume a seguir ideologias ou se submeter a doutrinas e símbolos políticos, mas é, antes, um convite ao relacionamento pessoal com o Criador. Em João 17:3, Jesus declara: "E a vida eterna é esta: que te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste". A vida com Deus, portanto, não se resume a um conjunto de rituais ou instruções, mas a uma vida relacional. Jesus não é apenas uma ideia abstrata, uma ideologia ou um símbolo político de transformação, mas uma pessoa viva com a qual cada indivíduo é chamado a ter uma comunhão pessoal e transformadora.

Em síntese, a religião, enquanto prática externa, não é capaz de salvar o ser humano. É o relacionamento pessoal com Jesus Cristo que conduz à verdadeira salvação. Esse relacionamento, fundamentado no amor, na confiança e na transformação interior, constitui o verdadeiro significado da fé cristã, demonstrando que a salvação não é um fim distante, mas uma vivência contínua e transformadora na presença de Deus.

(*)  É pastor evangélico há 30 anos e tem forte atuação na área social do Vale do São Francisco, desenvolvendo diversas ações nesse segmento há três décadas, tendo sido parceiro na criação de vários projetos de inclusão em Juazeiro e região. Ele tem formação em Teologia, Psicanálise Clínica, Educação Religiosa e Filosofia. Fez especialização em Radialismo, atuando por vários anos na área. É também professor e escritor. Em 2013, ganhou o título de Dr. Honoris Causa pela Genesis University. Colunista do TMNews do Vale (Blog do professor Taciano Medrado)

 

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